Por que Sócrates é considerado o
“patrono da filosofia”? Talvez seja porque ele jamais se contentou com as
opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade e com as crenças
mantidas inquestionáveis pelos seus conterrâneos. Em suma, Sócrates desconfiava
das aparências e procurava a realidade verdadeira das coisas.
Sócrates andava pelas ruas de
Atenas questionando as pessoas: “O que é isso que você está fazendo?”, “O que é
isso que você está dizendo?”. Os atenienses achavam, por exemplo, que sabiam o
que era a justiça. Sócrates lhes fazia perguntas de tal maneira que,
embaraçados e confusos, chegavam à conclusão de que não sabiam o que era a
justiça. Os atenienses acreditavam que sabiam o que era a coragem. Com suas
perguntas incansáveis, Sócrates os fazia concluir que não sabiam o que era a
coragem. Os atenienses acreditavam que sabiam o que era a bondade, a beleza, a
verdade, mas um prolongado diálogo com Sócrates os fazia perceber que não
sabiam o que era aquilo em que acreditavam.
A pergunta “O que é?” era o
questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para além
das aparências e contra as aparências. Com essa pergunta, Sócrates levava os
atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser, entre mera crença ou
opinião e verdade.
Desta forma, Sócrates auxiliava
as pessoas a libertarem suas mentes das meras aparências, e as direcionava à
buscar a verdade, mas também o conhecimento interior: “conhece-te a ti mesmo”.
Nesta mesma linha de raciocínio, Sócrates chegou a conclusão da importância da
atitude crítica e emendou, dizendo que só estaremos aptos a conhecer a verdade,
sendo críticos com nós mesmos, reconhecendo a nossa ignorância: “Só sei que
nada sei”. Daí, mais tarde, chega-se à conclusão que a filosofia está voltada
para os momentos e situações críticas.
PERÍODO SOCRÁTICO OU
ANTROPOLÓGICO
Sócrates deu origem a um
importante período da filosofia grega, chamado período Socrático ou
Antropológico, que perdurou do fim do século V a.C. a todo o século IV a.C.,
quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é a ética, a política e
as técnicas, e busca compreender qual é o lugar do homem no mundo.
O período Socrático foi marcado
por grandes mudanças nas cidades, no comércio, no artesanato e nas artes
militares, então, sendo responsável por Atenas ter se tornado o maior centro de
vida social, política e cultural da Grécia.
Foi a época de maior
florescimento e esplendor da “democracia”, que por sua vez, instituiu o conceito
burguês de “cidadão”.
Com o florescimento da democracia
e da figura do cidadão, surge então a necessidade dos mesmos aprenderem a
exercer a sua “cidadania”, opinando, discutindo, deliberando e votando nas
assembléias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do
bom orador, isto é, aquele que sabe falar em público e persuadir os outros na
política. Para dar essa educação, surgiram os sofistas, os primeiros filósofos
do período socrático.
A filosofia socrática se voltou
para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das idéias, das
crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as questões morais e
políticas.
O ponto de partida da filosofia é
a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional, capaz de
conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão.
Como se trata de conhecer a
capacidade de conhecimento do homem, a preocupação se volta para estabelecer
procedimentos que nos garantam que encontramos a verdade, isto é, o pensamento
deve oferecer a si mesmo caminhos próprios, critérios próprios e meios próprios
para saber o que é o verdadeiro e como alcança-lo em tudo o que investigamos.
PRINCÍPIOS GERAIS DO CONHECIMENTO
VERDADEIRO
Distinção entre o conhecimento
sensível e o conhecimento intelectual;
Diferença entre opinião e saber
ou conhecimento verdadeiro;
Diferença entre aparência e
essência.
SÓCRATES CONTRA OS SOFISTAS
Que diziam e faziam os sofistas?
Diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam repletos de
erros e contradições e que não tinham utilidades para a vida da pólis.
Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível
ensinar aos jovens essa arte para que fossem bons cidadãos.
Percebendo as más intenções dos
sofistas, Sócrates logo rebelou-se, dizendo que eles não eram filósofos, pois
não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer
idéia se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o
erro e a mentira valerem tanto quanto a verdade.
“SÓ SEI QUE NADA SEI”
A consciência da própria
ignorância é o começo da filosofia. O que procurava Sócrates? Procurava a
definição daquilo que uma coisa, uma idéia, um valor é verdadeiramente. Isso se
chama essência. Sócrates procurava a essência real e verdadeira das coisas.
Sócrates procurava o conceito, e não a mera opinião que temos de nós mesmos,
das coisas, das idéias e dos valores. O conceito é uma verdade intemporal,
universal e necessária.
Por isso, Sócrates não perguntava
se uma coisa era bela – pois nossa opinião sobre ela pode variar –, e sim “O
que é beleza?”, “Qual é a essência ou conceito do belo, do justo, do amor, da
amizade?”.
Sócrates perguntava: “Que razões
rigorosas você possui para dizer o que diz e para pensar o que pensa?”, “Qual o
fundamento racional daquilo que você fala e pensa?”.
Ora, as perguntas de Sócrates
referiam-se a idéias, valores, práticas e comportamentos que os atenienses julgavam
certos e verdadeiros em si mesmos e por si mesmos. Ao fazer suas perguntas e
suscitar dúvidas, Sócrates os fazia pensar não só sobre si mesmos, mas também
sobre a pólis. Aquilo que parecia evidente acabava sendo percebido como
duvidoso e incerto.
AS IDÉIAS DE SÓCRATES
Sabemos que os poderosos têm medo
do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todos aceitarem
as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que
são. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a
juventude pensar. Por isso, eles o acusavam de desrespeitar os deuses,
corromper os jovens e violar as leis. Levando à assembléia, Sócrates não se
defendeu e foi condenado a tomar um veneno.
Por que Sócrates não se defendeu?
“Porque”, dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu
não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu
pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter de renunciar à filosofia”.
DOGMATISMO E A BUSCA PELA VERDADE
Quando prestamos atenção e
Sócrates, notamos que ele desconfia das opiniões e crenças estabelecidas em sua
sociedade, mas também desconfia de suas próprias idéias e opiniões. Desconfia,
enfim, do dogmatismo, ou seja, aquelas atitudes espontâneas que temos desde
crianças.
O mesmo pode ser aplicado as
nossas sensações ou impressões sensoriais, que variam conforme o estado de
nosso, as disposições de nosso espírito e as condições em que as coisas nos
parecem.
Pelo mesmo motivo, devemos ou
abandonar as idéias formadas com base nas nossas sensações, era o que dizia
Sócrates.
Fonte: FILOSOFIA - CHAUI, Marilena.